Método de Coerver, já ouviu falar? É provável que sim. É um programa de evolução do futebolista através da mecanização do gesto técnico. Foi criado na Holanda, por Wiel Coerver, e baseia-se numa pirâmide com seis níveis de desenvolvimento. Em Portugal ficou mais conhecido por influência de Co Adriaanse.
O holandês contratou para o F.C. Porto um compatriota, Chris Kronshorst, especialista no Método de Coerver. Foi em Julho de 2006. Muito antes disso, porém, já a pior selecção do mundo se tinha rendido ao Método de Coerver: a Papua Nova Guiné. Em 2004 contratou Marcos Gusmão para reformular todo o futebol.
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O brasileiro ficou assustado com o que viu e pensou que problemas graves exigiam soluções drásticas. «O jogador da Papua é fisicamente forte, mas tecnicamente é fraco», diz ao Maisfutebol. «Tem um estilo de jogo britânico. Então tentei trabalhá-los através do Método de Coerver e adaptaram-se bem.»
Uma selecção arrastada para o último lugar do ranking FIFA
Resultados, porém, nem vê-los. A Papua tem zero pontos e ocupa o último lugar do ranking (203ª posição). Mas nem sempre foi assim. Em 2004, quando Marcos Gusmão chegou, ocupava um honroso 161º posto. Foi a melhor classificação. A partir daí foi sempre a cair. Pior do que isso, foi sempre a cair sem jogar.
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A selecção não se inscreveu na fase de apuramento para o Mundial 2010 e está desde 2004 sem competir. «Há uma guerra política entre a federação e o comité olímpico. O presidente da federação é chinês e isso não é aceite pelo comité olímpico. Por isso a selecção não foi inscrita. Eles sabotaram o nosso trabalho.»
Ora num país que vive para o râguebi e para o futebol australiano, parece que ninguém se importou com isso. Nos últimos cinco anos a Papua fez apenas um jogo, amigável, com as Ilhas Salomão. Perdeu por 2-1. «Na melhor perspectiva só volta a competir em 2012. Por isso demiti-me. Estava a desaparecer para o futebol.»
Um campo de recrutamento que alimenta todas as esperanças
As perspectivas de futuro parecem más. Mas não são dramáticas. É verdade que a Papua é um país pobre, sem infra-estruturas, com uma população organizada em comunidades indígenas e sem paixão pelo futebol. Mas tem um campo de recrutamento de quase sete milhões. Maior, por exemplo, do que a Nova Zelândia.
Papua Nova Guiné: 850 línguas e nenhuma é a do futebol
Ora num continente de países que são na maior parte pequenas ilhas, é um pormenor que pode fazer a diferença. «O presidente David Chung tem grande paixão pelo futebol e está a investir muito dinheiro na modalidade», diz Marcos Gusmão. «Foi feito um grande trabalho de recrutamento nas pequenas comunidades.»
Os jogadores foram levados para oito clubes, que disputam uma liga semi-profissional criada há quatro anos. Vivem no clube, comem de graça e recebem uma semanada. Por isso, ao contrário da Samoa Americana, San Mariano, Anguilla ou Monserrat, a Papua não é a pior selecção por obrigação. É apenas por opção.