O clássico acabou por ser tão alinhado como o Tratado de Tordesilhas: meio mundo para cada lado e no final um empate que é um mal menor para ambos.

Não satisfaz, claro que não, mas é justo e assim nenhum fica a perder.

O Sporting dominou a primeira parte, mas deixou que o FC Porto fosse vestindo aquele fato de costura castelhana até se sentir cómodo no jogo: com a posse de bola e alguma profundidade. Curiosamente fê-lo na segunda parte, depois das entradas de Tello e Óliver, dois espanhóis, lá está.

Também por isso é tão difícil não falar do Tratado de Tordesilhas.

Mas em frente, para dizer que resultou mais do jogo do que a simples divisão entre as partes. Resultou por exemplo a certeza que o Sporting, afinal de contas, ainda sabe receber bem.

Abriu as portas de sua casa ao FC Porto, mas tratou de se sentar à cabeceira. Para início de noite foi ele que ditou as leis do encontro. 

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Basicamente levou o futebol para onde mais lhe convinha e não deixou o adversário nem abrir a boca. Encheu o jogo de energia, intensidade e carga emotiva. Fê-lo através de muitas bolas longas, rigidez e uma pressão constante. É no fundo o futebol de Marco Silva: intenso, intenso, intenso.

O futebol portista é o oposto: muita posse de bola, serenidade e um ritmo de jogo sempre baixo.

Por isso deu-se tão mal, mas tão mal, tão mal, que a primeira vez que chegou à baliza leonina já estavam jogados 24 minutos. O primeiro remate, esse, chegou à meia-hora.


O Sporting entrou no jogo a marcar, logo aos 78 segundos, meteu as bancadas loucas de alegria e o estádio a vibrar (verdadeiramente). A partir daí, lá está, sentiu que não tinha nada a temer na própria casa e partiu para três quartos de hora de enorme pressão. Tão grande que o FC Porto não reagia.

Marcou por Jonathan e ameaçou marcar pelo menos mais duas vezes ambas em remates de Nani.

O FC Porto saiu para o intervalo sem ter criado uma verdadeira oportunidade de golo. Quaresma e Ruben Neves eram dois jogadores a menos, o meio campo não segurava a bola e o Sporting ganhava constantemente as segundas bolas: pormenor decisivo para dominar o jogo.

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A partir daí, com Nani em excelente forma, Carrillo com lampejos de classe e João Mário a encher o espaço entre linhas para criar desequilíbrios, só dava mesmo Sporting.

É de bom tom sublinhar, porém, que o domínio leonino foi caindo conforme os minutos passavam.

O que já permitia adivinhar que a segunda ia ser diferente. Foi, de facto. Ruben Neves e Quaresma deram os lugares a Óliver e Tello, o FC Porto ganhou posse de bola e profundidade. O Sporting recuou as linhas, diminuiu a pressão e deixou então ser o adversário a falar durante largos minutos.

No fundo pareceu não querer maltratar o visitante na sua própria casa. Boa educação, lá está.

Erro crasso, claro. Porque o FC Porto foi crescendo, crescendo, até empatar. Numa infelicidade de Naby Sarr (mais uma, pois). Os azuis e brancos sentiram-se então confortáveis, tiveram a bola no pé e Óliver sempre no centro das jogadas. Tello acelerou no último terço, os desequilíbrios tornaram-se mais comuns e as fragilidades do centro da defesa leonina tornaram-se mais evidentes.

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Depois do autogolo de Sarr o Sporting cresceu ligeiramente, mas até ao fim não se pode dizer que uma equipa tenha feito mais pela vitória do que a outra. A formação leonina ficou perto do golo num cabeceamento de Slimani e num remate à trave de Diego Capel, o FC Porto respondeu com um tiro de Herrera que fez brilhar Rui Patrício e um remate de Tello em boa posição a rasar o poste.

No fim fica a certeza que o Sporting perdeu uma grande oportunidade para vencer o FC Porto.

Mas não quis maltratar as visitas, recuou tanto que permitiu ao hóspede sentir-se confortável na casa dos outros e a partir daí ficou muito difícil conseguir outro desfecho que não fosse este.