Por vezes, no futebol como na vida, a necessidade aguça o engenho.

É por coisas destas que o futebol tem um poder de atração extraordinário. Quem diria que um Boavista-Gil Vicente iria ser um jogaço?

Boavista e Gil Vicente podem ser duas das equipas menos apetrechadas desta Liga, agora com 18 clubes. A classificação, nesse aspeto, é um dado objetivo que coloca axadrezados e gilista entre os que teoricamente, valerão menos no ranking de qualidade do primeiro escalão profissional.

Mas a prática, por vezes, desmente a teoria. A verdade é que quem se deslocou, esta tarde, ao Estádio do Bessa assistiu a um bom jogo de futebol. Teve cinco bons golos, emoção, equilíbrio e alguns períodos de qualidade.

Mesmo quando a qualidade não imperou em certas fases de jogo, valeu sempre a pena acompanhar esta partida. Porque se sentia que o golo estava iminente. Porque tanto Boavista como Gil não se conformavam com o empate e procuravam o triunfo.

Bem à imagem do seu treinador, a equipa de Petit teve exibição aguerrida, misturando vontade e crença. A qualidade e a experiência podem não abundar, mas a atitude é de tal modo positiva que o Boavista está a conseguir bater-se, desde cedo, com equipas «de primeira»... mesmo não sendo ainda uma equipa «de Liga».

Mereceu o triunfo, pelo coração gigante que mostrou do primeiro ao último miniuto. Quanto ao Gil, talvez não merecesse destino tão infeliz, em função das oportunidades que conseguiu criar. 

45 minutos para recordar

Foi uma bela primeira parte: aberta, emotiva, com boas oportunidades dos dois lados.

Duas equipas a quererem marcar, a procurarem a vitória. Não satisfeitas com o empate, a desejarem o triunfo.

O caso não era para menos: José Mota herdou situação complicada no Gil e, chegado ao Bessa só com um pontom, sabia que era muito importante vencer esta partida. O Boavista, depois de arranque complicado, estava a começar a embalar, com quatro pontos somados nas últimas duas jornadas.

O Gil entrou com o pé direito: quase no primeiro lance do desafio, lançamento de linha lateral para a equipa forasteira. Simi, à ponta-de-lança, recebe, inventa o espaço, roda e fatura: 0-1.

O Boavista soube reagir e justificou a igualdade alcançada rapidamente: 1-1 por Philipe Sampaio, de cabeça.

Até ao intervalo foi um pingue pongue de oportunidades para as duas equipa, em duelo intenso e bem jogado.

E venham mais três bons golos...

Os primeiros dez minutos do segundo tempo pareciam indiciar uma menor intensidade da partida, depois daquela primeira parte de grande nível.

O Boavista tinha mais bola e estava mais próximo da baliza adversária. Mas voltaria a ser o Gil a pôr-se em vantagem: Simi («who else?») assinou um golaço, num pontapé de bicicleta sem hipóteses para Mika.

Ainda os barcelenses festejavam o 1-2 de encher a vista e já o Boavista empatava: remate potente e colocado de Anderson Carvalho. Estava refeita a igualade...

Simi ainda teria feito o hat-trick, mas o árbitro considerou que o avançado do Gil estava em fora-de-jogo (decisão duvidosa).

De todo o modo, o empate acabaria por ser desfecho justo.

Mas a história deste belo jogo não se ficou por aqui. Anderson Carvalho, em tarde inspirada, resolveu mesmo, fazendo o 3-2 em mais um remate potente e colocado.

Loucura total nas bancadas do Bessa. Sete pontos nas últimas três jornadas: muito bom para um Boavista que iniciou a época com selo de... coitadinho.

O Gil acentua o pior arranque das últimas épocas largas. ..