Dois dos treinadores de maior sucesso no futebol português vão enfrentar-se este sábado pela primeira vez na Liga Inglesa. José Mourinho e André Villas-Boas já foram muito próximos, trabalharam juntos, mas hoje são rivais e o afastamento é bem visível.

O Tottenham-Chelsea deste fim-de-semana não é só um derby de Londres ou um jogo entre duas equipas que lutam pelo título em Inglaterra. É, acima de tudo, a primeira vez que todo o mundo vai ver os dois técnicos em lados diferentes da barricada. E todo o espetáculo em que isso pode resultar: as conferências de imprensa, as táticas, as movimentações nos bancos, o resultado final e as reações após o jogo.

Duas das mais interessantes personalidades futebolísticas do momento afastaram-se a partir do momento em que Villas-Boas se tornou treinador do FC Porto. Chegou mesmo a dizer: «Não falo com José Mourinho». Foi campeão, ganhou a Liga Europa e o salto para Inglaterra aconteceu mais cedo do que seria de esperar. Levantou-se da «cadeira de sonho» para segurar o trono de «special two» no Chelsea. Mourinho não gostou do argumento deste conto de fadas e cortou o cordão umbilical. Passaram a disputar jogadores e a cavar um fosso nas relações pessoais.

André não teve sucesso no Chelsea, não conseguiu ser especial, nem seguir as pisadas de José. Mas teve uma segunda oportunidade, no Tottenham, também de Londres, onde encontrou mais paciência e muito dinheiro para reforçar uma equipa à procura dos sucessos do passado.

«Vai ser especial defrontar o Chelsea, particularmente por encontrar uma pessoa que foi decisiva na minha carreira», disse Villas Boas em junho, pouco depois de se saber que Mourinho ia regressar a Stamford Bridge e, por consequência, seria seu adversário.

Da boca de José poucas palavras foram proferidas a respeito do ex-súbdito, apenas a evidência de ter literalmente desviado Willian do Tottenham, um jogador há muito cobiçado por André e que estava no Anzhi. A esse respeito Villas-Boas foi mais longe, comentando com cautela o interesse num outro jogador: «Há interesse no Vlad Chiriches, mas talvez alguém o tente roubar também».

Antes já tinha havido um episódio quente, quando Modric fez tudo para deixar o Tottenham de André para assinar pelo Real Madrid de José. O dinheiro falou mais alto e Villas-Boas não gostou do comportamento do atleta. O historial de desentendimentos avoluma-se e tem tudo para continuar.

Fantasma

Inicialmente Villas-Boas não se esforçou muito para descolar a sua imagem de Mourinho. Cedo foram feitas comparações, mas viria a aprender que o caminho tinha de ser diferente. As coisas correram-lhe mal no Chelsea, ouviu os adeptos cantarem o nome de José e Pinto da Costa deu a sentença: «Ele está sempre com o fantasma do Mourinho. Ele precisa de tempo para moldar a sua equipa, e não pode fazer isso enquanto houver jogadores, como eu ouvi, que trocam mensagens com Mourinho».

Mas André parece estar a saber ultrapassar essa ameaça, fazendo uma primeira época interessante no Tottenham, que o levou a ser cobiçado por outros clubes (como o Paris Saint-Germain), e promete alcançar um patamar superior nesta segunda temporada no White Hart Lane.

No lançamento do jogo, Villas-Boas aproveitou para demarcar-se: «Vamos jogar contra o Chelsea, não contra Mourinho». E numa entrevista ao jornal Léquipe constatou o óbvio: «Comparações com Mourinho são difíceis de aceitar por diversas razões. Aprendi com José Mourinho, mas sou totalmente diferente. O meu caráter, os meus métodos de trabalho e a comunicação são diferentes».

O delfim de José emancipou-se e não quer ser o «number two». Falta provar dentro de campo se consegue chegar tão longe, mas desconfia-se que Mourinho não está disposto a tornar-lhe a vida fácil. A guerra ainda agora começou e nós estamos aqui para assistir.