Seis portugueses vão tentar neste Outono ascender dois dos cumes mais altos do Mundo. Por um lado uma expedição integralmente portuguesa liderada por João Garcia vai tentar atingir o pico do Shisha Pangma (8046m), por outro a alpinista Daniela Teixeira partiu sozinha para o Cho Oyu (8201m), onde tentará uma proeza inédita em português e no feminino: atingir o ponto mais alto de uma das catorze montanhas que existem no Mundo mais altas que 8000m, todas elas localizadas nos Himalaias.
Daniela Teixeira partiu a 8 de Setembro para o seu objectivo solitário, a expedição portuguesa ao Shisha Pangma, que integra também uma mulher, Ana Silva, parte este sábado. Um marco assinalável, num país quase sem montanha e pouca tradição de alpinismo.
João Garcia, o alpinista português com o mais recheado currículo e o único atleta luso a atingir o cume do Evereste, a mais alta montanha do mundo (8848 metros), mostra-se confiante no interesse crescente dos portugueses pela modalidade e pela aventura a que estão associadas as grandes expedições aos Himalaias.
«A 2: passou um programa de montanhismo no domingo. As televisões têm passado cada vez mais reportagens sobre montanhismo e isto não pode ser uma simples coincidência», nota o alpinista ao Maisfutebol. «O alpinismo era visto como um trabalho de excêntricos, de quem não tem mais nada para fazer», constata, considerando que algo está a mudar.
Portugal é um país sem tradição no alpinismo, a que falta também uma federação condigna. João Garcia reitera esta realidade. «Tem de se fazer a transição de uma federação de campismo para uma de montanhismo», acredita, constatando que ele próprio não é reconhecido como atleta de alta competição, embora tenha recebido uma medalha de mérito desportivo depois da sua ascensão ao Evereste.
O nome do alpinista ficou conhecido quando, em 18 de Maio de 1999, se tornou o primeiro português a ascender ao ponto mais alto do Mundo, sem recurso a oxigénio artificial. Foi a rampa de lançamento do atleta, mas ficou marcada por um grave acidente. «O meu companheiro [o belga Pascal Debrouwer] faleceu, mas foi ironicamente o Evereste que me lançou. Tirando a tragédia, foi um marco histórico para Portugal», recorda João Garcia.
João Garcia continuou a escalar e já ascendeu sete das montanhas mais altas do mundo (Cho-Oyu, Dhaulagiri, Everest, Gasherbrum I, Gasherbrum II, Lhotse e Kangchenjunga), pretendendo escalar as outras sete que formam o conjunto dos cumes acima dos 8000 metros, sempre sem recurso a oxigénio. O próximo objectivo dá pelo nome de Shisha Pangma, também conhecido como «O Trono dos Deuses». Hélder Santos, Rui Rosado, Bruno Carvalho e Ana Santos Silva são os outros membros da expedição a uma montanha em que Garcia é «repetente».
«Em 2002 tentei escalar o Shisha Pangma, mas o El Niño provocou um atraso de um mês na chuva da monção e a chuva e a neve trouxeram limitações que me obrigaram a desistir, até por motivos de segurança. Este ano é também ano de El Niño e prevejo que a situação se repita, partindo por isso mesmo um mês mais tarde. Não quero cometer os mesmos erros de 2002», referiu o alpinista.
Com regresso previsto para o dia 18 de Novembro, o grupo pretende ser bem sucedido, até porque os pupilos de João Garcia nunca escalaram uma montanha com mais de oito mil metros. O líder da expedição acredita que o facto da equipa ser composta somente por portugueses pode ajudar no sucesso da campanha.
«Fica logo afastada a barreira linguística. Eles podem não ser os melhores alpinistas portugueses, mas são os que melhor se adequam a esta tarefa. Fico muito feliz por poder proporcionar-lhes esta oportunidade, ainda mais quando temos uma mulher no grupo, um facto inédito. Quero lançar novos alpinistas, que mais tarde vão ter autonomia para terem os seus próprios projectos», assegurou.