Triplos, layups e afundaços…Ok, isso também não, mas o Complexo Desportivo Municipal do Casal Vistoso está mesmo a acolher a quinta edição da NBA Basketball School Portugal e o Maisfutebol foi até ao Areeiro para assistir ao vivo a um treino de basquetebol.

O nosso jornal chegou ao pavilhão cerca de uma hora antes do início da sessão de trabalho e, aos poucos, assistiu à chegada dos jovens rapazes e raparigas, entre os 6 e os 18 anos, que dentro de minutos iam estar às ordens de Cliff Morgan, antigo treinador-adjunto dos New York Knicks, uma das equipas mais históricas da NBA.

Entre os craques estavam Yolyio Servin, jogador de 13 anos do Clube Recreativo Desportivo Arrudense, e Marisa Elias, de 15 anos, que joga na Quinta dos Lombos.

Para aquecerem, os dois jovens, como tantos outros, pegaram em duas bolas e começaram a lançar ao cesto, sob o olhar atento do treinador, que conversa connosco com as laranjinhas a baterem no chão como barulho de fundo.

O norte-americano Cliff Morgan cumprimenta-nos sorridente e revela ao Maisfutebol que esta não é a primeira vez que está em Portugal, uma vez que jogou no Sangalhos, equipa de basquetebol da zona de Aveiro da segunda divisão, «há muitos anos mesmo».

Rapidamente percebemos a simpatia do antigo basquetebolista, que é também muito exigente, e nem o tenta disfarçar.

«Nestes campos de treinos, a maioria dos treinadores chega e dá uma bola às crianças. Eu não faço isso, não vou fazer isso. Quero ensinar-lhes a importância da estrutura no basquetebol. O trabalho do corpo, dos pés, as pequenas coisas que não pensavas fazer antes», começou por dizer, antes de explicar o que é jogar «à NBA».

«Jogar à NBA é trabalhar. Trabalhar muito mesmo. O basquetebol não é só ter a bola na mão. Se precisas de uma bola para aprender a jogar, tu não sabes o que é o basquetebol. O basquetebol é sobre trabalho de pés, controlo do corpo, postura, consistência, motivação. Se tiveres tudo isto, vais melhorar como jogador de basquetebol. Há muito mais no basquetebol além de uma bola. Quando fazes um bolo, não é só meter o bolo no forno. Tens de juntar todos os ingredientes, é isso que eu estou a fazer. Estou a dar-lhes os ingredientes todos para serem um bolo melhor», concluiu.

Assim que termina de falar connosco, Cliff Morgan faz soar o apito e o barulho das bolas a bater no chão dá lugar ao silêncio. Não se ouve uma mosca no pavilhão, até que o treinador começa a falar aos seus jogadores e jogadoras numa roda no centro do campo.

O técnico, de 50 anos, lembra Stephen Curry, com quem chegou a trabalhar, e que «para acertar um lançamento, precisou de lançar 10 mil vezes no treino». Os olhos dos jovens brilharam ao ouvirem falar num dos seus ídolos, mas o entusiasmo rapidamente deu lugar à desconfiança.

«Bolas arrumadas», disse Morgan, para espanto dos rapazes e das raparigas, que ficaram perplexos a olhar uns para os outros. Não, o treinador não estava a brincar. Sim, o pior estava para vir.

Cones colocados a meio do campo. Grupo dividido em dois nas linhas laterais e novo apito do norte-americano. «Let´s dance», ouviu-se. E lá foram eles «dançar» ao ritmo dos…suicídios.

Três minutos passaram e o cansaço era evidente, mas nova série seguiu-se. Mais três minutos de corrida para a frente e para trás, que deixavam já cansados quem estava apenas a assistir.

«Este é duro», sussurrou-se, e Morgan lá disse duas palavras que souberam mesmo bem nos jovens: «Water, água». Cerca de 20 jovens, entre eles Yolyio e Marisa, fizeram uma pequena pausa, mas ainda tinham muito por ultrapassar.

Foram uns exercícios atrás dos outros. Todos eles de força e condicionamento físico. A cada dois, uma paragem para «Water, água», até que, ao fim de 1h30, houve um intervalo. Houve quem se deitasse no chão, houve quem optasse por reabastecer.

Yolyio escolheu esta última e falou connosco enquanto comia uma sandes e bebia um sumo.

«É importante, porque ao puxarmos o nosso corpo ao máximo, a nossa mente tem de ser firme. Ela vai estar a sempre a dizer para parar, que já chega, que estou cansado, isso prepara-nos para uma situação de jogo, onde podemos estar cansados e conseguimos dizer que dá mais um pouco, para continuar, sem parar», disse o fã de Kobe Bryant, que parece levar a «Mamba Mentality» bem a sério.

O basquetebolista, de 13 anos, sonha chegar à NBA, ao contrário de Marisa, que pensa primeiro na escola.

«Não penso chegar muito longe, por causa da escola, mas gostava de ganhar um campeonato distrital ou nacional», confidenciou-nos a fã de Curry e Tatum, que aprendeu «a pouca técnica de drible no campo de verão do ano passado», enquanto comia umas bolachas.

Os dois não demoraram muito a regressar ao campo, uma vez que o apito de Morgan, que acredita que Neemias Queta «pode jogar mais nos Celtics», voltou a ecoar no Complexo Desportivo Municipal do Casal Vistoso, no Areeiro.

Seguiu-se mais uma hora e meio de exercícios bem duros, que começavam a fazer vítimas. Os jovens davam claros sinais que não aguentavam mais e eram já raros aqueles que completavam o que era pedido por Morgan e pelos seus três treinadores assistentes na parte final do treino.

«Estou a achar bom. Tive um treino mais cedo e estou um bocado cansada. Acho que é bom, treinamos a resistência», confessou-nos Marisa.

«Estou a gostar muito de estar em Portugal, a desfrutar da companhia, que torna isto fácil para mim, os miúdos estão entusiasmados. Espero voltar cá», afirmou-nos Cliff Morgan.

A NBA School vai estar em Aveiro, de 1 a 3 de abril, e no Porto, de 4 a 6 de abril. Vai ainda viajar, mais tarde, até Braga, Coimbra, Funchal e Portimão.

Até lá, boas férias da Páscoa. E bem-vindos à NBA.