O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
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MARCO LEITE, PREPARADOR-FÍSICO DO AEL LIMASSOL
«Há vidas assim.
Longe estava eu de pensar que, aos 38 anos, perto de fazer 39, estaria a trabalhar e a coadjuvar um treinador que como jogador marcou uma geração no F.C.Porto. Um ídolo para muitos, nos quais me incluo. É um privilégio.
Chipre é a paragem. AEL LIMASSOL é o clube
O meu nome é Marco Leite. Sou Mestre em treino de alto rendimento e é no Chipre que vou «puxar o filme atrás». A vida é cara, nos cafés o corridinho é frenético e impressiona. Os turistas passeiam numa promenade longa e solarenga.
Atrevo-me a dizer que parece que estamos de férias. A realidade é outra. Os fãs, fanáticos, entoam cânticos estridentes e a abordagem na rua é constante. O clube, esse, oferece boas condições, embora a organização e o profissionalismo estejam longe daquele que desejamos.
A surpresa não é total, o ano passado a aventura foi romena, onde a organização nos clubes e no futebol em geral fica muito aquém do que estamos habituados. O CFR Cluj, clube que representei a convite do Jorge, foge à regra. Bons dirigentes, boa estrutura, deixei lá bons amigos.
A Briosa foi o meu clube antes de me aventurar em terras de Vlad Tepes, o Drácula. A história e o passado deste clube e da cidade pesa de uma forma positiva e motivante nos ombros de quem lá trabalha. Grande Clube! Desta vez com Ulisses Morais, a quem eu devo o meu ingresso no escalão principal do nosso futebol. Astuto, competente, profissional e com um conhecimento impar do nosso futebol. Aprendi muito com ele.
Foi da Capital do móvel que viajamos para Académica. O Paços de Ferreira, grande clube, tipicamente de gentes do norte, humildes, generosas, bons convivas, jogadores carismáticos que perpetuam a máxima «antes quebrar que torcer». Adorei.
Dois anos e meio na Naval 1º de Maio antecederam a ida para o Paços. Marcado fortemente por um Presidente sui generis, com poucos sócios, pouca pressão, mas onde encontramos mesmo assim muitas dificuldades. Conseguimos o objectivo sempre. Foi dificil, mas igualmente motivador. Envelhecemos todos.
No F.C Porto coordenei uma equipa de competentes colegas, num projecto arrojado e de enorme sucesso, chamado Dragon Force. A casa dispensa apresentações. Para um portista, a alegria e o orgulho é imenso quando serve o clube do coração. Profissionalmente é impar.
O galo de Barcelos canta alto no meu coração. O Gil Vicente foi o meu primeiro clube na I Liga. Um grupo excepcional de jogadores. Um «staff» fantástico, sempre alegre e com vontade de trabalhar. Viagens do estádio para o campo de treinos, únicas. Não faltava nada. Um Luís Figo, um chicharro, um cavalo e um Fiusa. Que saudades.
O Dragões Sandinenses foi o clube que servi orgulhosamente durante um ano. Terra do meu amigo e colega Manuel Santos, o Neca. Suportado à altura por um presidente endinheirado, um clube pequenino, mas profissional. Suponho que agora viva graças à generosidade das gentes da terra e de alguns associados.
O início da minha vida como profissional de futebol deve-se ao Joca Fernandes e ao Manuel Correia. O sonho tinha-se tornado realidade e numa boa terra, a do presunto. Chaves foi o destino. Clube com muita história no nosso futebol. O trabalho foi feito e bem feito, entre salários em atraso e algumas dificuldades. Cumprimos. Mas também entre almoços e jantares no Aprígio, entre pastéis quentinhos e sandes de presunto, todas as dificuldades pareciam atenuar-se, e o tempo para lá do Marão voava.
Há vidas assim...cheias.
Marco Leite (Chipre)».