Jermaine Defoe foi um dos protagonistas do fim de semana. Em primeiro lugar, pela carga emocional que transmitiu ao embate com a Lituânia, em Wembley, ao entrar em campo acompanhado por Bradley Lowery, o menino de cinco anos, com um cancro terminal que o avançado do Sunderland e alguns colegas de equipa já tinham visitado no hospital, no mês de fevereiro e com quem Defoe estabeleceu uma relação de amizade.

Depois de entrar no relvado à frente da equipa – após um gesto de grande sensibilidade do capitão Joe Hart, que à saída do túnel trocou de posição com Defoe - Bradley, devidamente acarinhado por todos os elementos da equipa inglesa, incluindo o selecionador Gareth Southgate

foi depois para a tribuna de honra onde, acompanhado pelos pais, assistiu ao jogo e aplaudiu a saída do seu ídolo, aos 59 minutos.

No final do encontro, Jermaine Defoe confessou que não tinha sido fácil lidar com as emoções contrastantes: «Foi especial, por vezes é difícil manter as emoções sob controlo. Depois do hino ele virou-se para trás e abraçou-me, e eu só tentei não quebrar, mas ao mesmo tempo foi incrível. Já toda a gente sabe o tipo de relação que criámos e embora seja uma situação triste espero que ele se tenha divertido», admitiu.

O segundo fôlego dos trintões

Num jogo que também já tinha ficado marcado, antes do pontapé de saída, pela homenagem às vítimas do atentado na ponte de Westminster

Houve também, por entre toda esta intensidade emocional, uma história desportiva. «Uma história bonita», como frisou Southgate, depois da vitória por 2-0 da sua equipa, desbravada, precisamente, por um golo de Defoe.

Aos 34 anos, o antigo avançado do Tottenham dificilmente estaria à esperara de uma nova oportunidade com a camisola dos três leões. Ausente das convocatórias desde novembro de 2013, o craque do Sunderland - que soma 14 golos nesta edição da Premier League, mesmo jogando no último classificado – já tinha falhado as fases finais do Mundial do Brasil e do Europeu de França.

Enfrentando concorrência cerrada - com Vardy, Carroll e Rashford, além do consagrado Rooney e do indiscutível Kane – Defoe conquistou Southgate com o entusiasmo demonstrado durante a semana. Repare-se na sequência, quase em contagem decrescente: no 22º jogo a titular, precisou apenas de 21 minutos para marcar o seu 20º golo pela seleção.

Defoe manteve desta forma a excelente média de um golo a cada 120 minutos, oficializando a candidatura a um lugar fixo no grupo, como o próprio Southgate reconheceu no final. «Estou feliz por ele ter marcado o golo, mas o quadro maior tem a ver com o seu contributo durante toda a semana de treinos. Se continuar a marcar regularmente na Premier League e a jogar tão bem como o tem feito até aqui, não há motivo para não poder pensar no Mundial da Rússia», frisou o selecionador inglês.

Noutro continente, um estado de espírito semelhante deve estar a ser vivido por outro ilustre trintão, este bem conhecido do futebol português. Com o Brasil em contagem decrescente para tornar-se a primeira seleção a juntar-se à anfitriã Rússia, o médio Diego protagoniza também outra versão deste segundo fôlego dos trintões.

Com 32 anos cumpridos em fevereiro, o antigo criativo do FC Porto foi chamado por Tite, em janeiro deste ano, a um particular com a Colômbia, pondo fim a uma ausência de oito anos, que já remontava às eliminatórias para o Mundial 2010. Jogou, agradou, e mereceu nova chamada, agora para jogos a doer. Com uma carreira pontuada pelas demonstrações avulsas de talento, mas também pela irregularidade, Diego parece ter encontrado a estabilidade no Flamengo e no regresso ao Brasileirão, tendo sido considerado o melhor médio de ataque da última edição da prova.

Embora não tenha saído do banco na vitória sobre o Uruguai, Diego tem-se mostrado feliz e entusiasmado com este regresso à canarinha

e com o encorajamento deixado pelo próprio Tite, que não só destacou o seu rendimento desportivo, mas também o alto nível de preparação de que deu mostras durante a paragem competitiva. Um elogio que tem significado ainda mais forte considerando que, dos 23 convocados do Brasil para esta dupla jornada, Diego é um de apenas quatro que não atuam em equipas estrangeiras.

Portugal: Ricardo Carvalho e os outros

Se regressos a seleções de topo após ausências de oito anos, como a protagonizada por Diego, são bastante raras, a verdade é que o segundo fôlego dos trintões em momentos competitivos importantes é um clássico. Basta lembrar que, em 1993, o regresso de um Maradona com 33 anos, a tempo de garantir o apuramento da Argentina para o Mundial dos Estados Unidos, ao fim de três anos de ausência forçada, transformou uma seleção alviceleste em crise e tornou-a candidata ao título. A caminhada dos argentinos acabou por ser atraiçoada pelo próprio Maradona, que em pleno Mundial não evitou um controlo antidoping positivo.

Mas a seleção portuguesa foi, recentemente, uma ilustração mais feliz desses casos: em 2014, a passagem de testemunho entre Paulo Bento e Fernando Santos ficou marcada pela recuperação de um quarteto de jogadores na casa dos 30 anos, que retomaram o percurso na equipa das quinas após duas, três ou mesmo quatro épocas de interrupção.

Foram os casos de Tiago (voltou aos 33 anos, em outubro de 2014, após quatro de afastamento voluntário), Ricardo Carvalho (que regressou na mesma altura, aos 36, três anos e dois meses depois de ter abandonado uma concentração, com Paulo Bento), Quaresma (que também voltou, aos 31, ao fim de dois anos e meio) e Bosingwa (32 anos em novembro de 2014, após quatro anos de ausência).

Todos eles foram utilizados na campanha de qualificação para o Euro – e os quatro em simultâneo nos jogos com Arménia e Sérvia, quando Portugal apresentou o onze mais veterano da sua história e Ricardo Carvalho se tornou o primeiro jogador a marcar pela seleção com mais de 36 anos. Sabe-se o resto da história: Bosingwa e Tiago ficaram pelo caminho, devido a lesões, mas Ricardo Carvalho e Ricardo Quaresma prosseguiram a caminhada até ao título europeu, provando que, nestas coisas de seleções, enquanto os jogadores continuam a render nos clubes, as portas raramente se fecham em definitivo.