«Eusébio. Ponto final.» Assim começa e assim acaba o livro de Afonso de Melo sobre o maior fenómeno do futebol português, «Viagem em redor do planeta Eusébio» (Prime Books). Pelo meio há muitas outras palavras, todas elas certas, todas elas dispensáveis, como lembra o autor, porque Eusébio se escreve a ele mesmo e talvez não fosse preciso dizer mais nada. Mas leiam-no, ainda assim. Porque mesmo tratando de uma história conhecida é sempre importante ler um livro muito bem escrito. Aliás, todos os livros verdadeiramente bem escritos transformam histórias conhecidas numa nova história.
As finais europeias, as lesões, as operações, o Mundial-66, a ingratidão no ocaso da carreira estão lá. E também os artigos da imprensa da época, com as prosas épicas de Nelson Rodrigues e Carlos Pinhão como patronos de um tempo em que o grande futebol se construía também na palavra escrita.
É, assumidamente, um livro subjectivo. Como tal, está recheado de opiniões, muitas delas discutíveis. Como se impõe no retrato de uma figura que banaliza os números. Não quer isto dizer que não haja, por detrás deste livro, um aturado trabalho de pesquisa, em alguns casos mais profunda do que alguma vez foi feita. Mas não se confunda o essencial: os números estão lá porque tinham de estar, mas não saltam para o primeiro plano. Nesse, nunca deixando os holofotes, estão as memórias, num tom de crónica-um-pouco-mais-comprida-do-que-o-habitual.
Acima de tudo, vale a pena ler «Viagem em redor do planeta Eusébio» porque este livro nos remete para as duas coisas verdadeiramente essenciais no futebol: memórias e glória. Ou seja: alma. Tudo o resto é acessório, e quem ainda não percebeu isto não percebe nada de futebol. Nem da vida.