Uma diferença tão grande como aquela que vai de Portugal para o Brasil na geografia. Daniel Bessa trocou o Inter de Milão pelo Olhanense, uma mudança que assume sem rodeios e consciente do mundo que separa os dois clubes. Antes de vir informou-se. Afinal, deixar um gigante do futebol mundial para um clube de menor dimensão não é uma decisão que se tome num primeiro pensamento. Pelé, que agora é companheiro, foi um dos conselheiros. O outro foi Kelvin, do FC Porto.

«Acompanho sempre a Liga portuguesa, tive a oportunidade de ir para outros lugares,mas fiz agora 20 anos e quis ficar num sítio em que teria mais hipóteses de jogar. Como sou brasileiro, Portugal parecia mais fácil.» Daniel Bessa expõe o primeiro argumento para uma troca inaudita no futebol português.

«Aqui é bom para a molequada»

«O Olhanense pode não ter muita tradição, no ano passado teve problemas, eu sei, mas trabalham bem. Posso baixar um pouco em termos de clube, mas aqui há qualidade e tenho hipóteses de me mostrar, foi isso que me fez escolher vir», continuou o médio, descoberto pelo Inter aos 15 anos, quando jogava pelo Atlético Paranaense, depois de ter representado outro clube da cidade, o Coritiba.

Aliás, foi na capital de estado que conheceu Kelvin, o extremo que o FC Porto descobriu no Paraná FC. O rapaz do pontapé mais importante da Liga 2012/13 foi ouvido por Daniel Bessa. «Conversei com o Kelvin, joguei contra ele no Brasil, porque vivemos na mesma cidade», revelou.

«Também falei com o Pelé que estava no Milan e que agora também está aqui, e eles disseram que este é um campeonato bom para a molequada, no qual há boas hipóteses para se jogar com regularidade e que vale muito a pena», confessou.

Aos 20 anos, Daniel Bessa quer mostrar-se na vitrine da liga portuguesa. Deseja sobressair apesar do primeiro contacto com uma realidade já esperada. «Não é vergonha nenhuma dizer que é diferente, que o Olhanense em termos de estruturas fica bastante abaixo do Inter. Mas eu coloco o meu crescimento como jogador em primeiro lugar. O Inter é uma equipa grande, mas vim preparado para este desafio, o centro de treinos e as outras estruturas ficam de lado, eu quero é jogar», assumiu ao Maisfutebol.

Preferir Olhão à Premier League

Bessa tem dupla nacionalidade, brasileira e italiana, e chegou a ser equacionado pelo treinador do Sunderland, Paolo di Canio, como reforço de um clube da Premier League. «Tinha outros convites, o do Sunderland era um deles, mas não foi para a frente porque também não era esse o futebol que eu queria», explicou.

«Como disse, acompanho bastante o campeonato português. É claro que vi mais jogos de equipas grandes, até pelas competições europeias, mas a expectativa é boa. No campo espero um campeonato rápido e técnico», disse.

Ou seja, uma liga de encontro àquilo que se considera como futebolista: «Sou um médio, jogo atrás dos avançados, mas faço duas ou três funções. Em Itália aprendi a ajudar a equipa, gosto de segurar a bola e tenho técnica.»

Um perfeito anónimo no Brasil, como o próprio reconhece, Daniel Bessa diz que ainda tem «de demonstrar muito» para ser notícia no país em que nasceu. Para já, sacrificou o bem estar das estruturas do Inter pelo clube algarvio.

Ainda assim, é alguém que diz estar habituado a superar dificuldades. «Há um ano tive uma lesão no joelho, uma rutura de ligamentos, na final do campeonato sub-20 com a Lazio. Fui para o Vicenza depois disso e estive lá três meses e meio só para ter alguma hipótese de jogar.» Foi no clube do Veneto que Bessa se estreou no futebol sénior, depois de alguns particulares com o Inter.

Em Portugal, quer assim deixar de ser «moleque», tornar-se adulto e, eventualmente, «entrar na mira de algum clube». Para já, tem a atenção do treinador Abel Xavier, o primeiro a quem tem de convencer.