João Félix e Francisco Conceição deram esta terça-feira mais um exemplo de que há uma predisposição para a batota que é intrínseca ao jogador português.

As quedas que protagonizaram são feias, muito feias: ambas incompreensíveis, mas talvez um pouco mais até a do jogador do Barcelona, que já tinha ganhado o duelo sobre o defesa e estava em excelente posição dentro da grande área.

Preferiu, mesmo assim, teatralizar uma queda. Porquê?

Porque fomos educados assim: crescemos a fazê-lo. Fomos educados que vale tudo para ganhar e que o relvado é um lugar para tipos espertos. No fundo haverá sempre alguém a procurar o toque de uma mão, de um dedo ou de um cabelo para justificar aquela queda e gritar durante semanas que foi penálti.

Ora isto leva-nos para uma reflexão mais ampla. O problema não é de João Félix, ou de Francisco Conceição: ou melhor, o problema não é exclusivamente deles.

A verdade é que existe uma educação para o chico-espertismo no futebol latino, e por arrasto no futebol português. Quarenta anos depois de Maradona marcar um golo com a mão, continuamos a elogiar a capacidade de iludir o árbitro, burlar os adversários, enganar os espectadores e falsear o jogo.

Há no jogador português uma destreza cinematrográfica para cair dentro da área que implica muito treino, muitos ensaios, muitas horas.

Mas não se iludam: isto não é uma arte, não é um talento, não é um dom.

É uma mentira. 

Quando um jogador cai na área, como João Félix e Francisco Conceição fizeram ontem, fica apresentado: sabemos logo que tipo de jogador é que é. Sabemos nós, sabe o mundo e sabem os mercados que não apreciam este tipo de batoteiros. Como o futebol inglês e o futebol alemão, por exemplo.

No fundo, não estão só a enganar o árbitro, o adversário e o jogo. Estão a enganar-se a eles próprios também, que ainda não perceberam como isso os prejudica junto de certos clubes, e de certos públicos.

Sobretudo porque os tempos mudaram, porque agora há videoárbitro e porque é difícil enganar as pessoas como se fazia antigamente.

Se calhar já era tempo de começarmos a mudar isso.