[artigo publicamente a 12/09/2011]

Os «red devils» vinham vestidos de azul a lembrar o pesadelo de Wembley, em 1968, em que o Benfica perdera a Taça dos Campeões Europeus (4-1 após prolongamento). Também traziam um Ronaldinho português, ainda com 20 anos, mas já com a camisola 7 colada ao corpo. Giggs quase que ainda era um jovem e Scholes fazia o 0-1 ao minuto 5.

Assim começou a história da única vitória do Benfica sobre o Manchester United, resolvida por um futebolista mal-amado, com «fama de chuta-chuta», nas palavras do próprio. E esse foi o único golo que marcou ao serviço das águias. Um golo histórico, com dedicatória.

Pior derrota de sempre em casa tem um nome

Era o ano do regresso à Luz da principal competição europeia. Pela primeira vez no século XXI, o Benfica jogava a Liga dos Campeões. Na última jornada da fase de grupos precisava de vencer os ingleses para seguir em frente. O United, imagine-se, podia sair da prova. Quando Scholes fez o 0-1, o estádio ficou silencioso como uma biblioteca.

Mas Koeman tinha a estratégia montada: um 4x2x3x1 com Geovanni na frente, a ponta-de-lança, e Nuno Gomes como organizador, na ausência de Simão e Miccoli. Dez minutos depois do golo de Scholes, o baixinho brasileiro marcava de cabeça entre a defesa do United. Incrível, insólito, era o destino, talvez.

Nuno Gomes brincou, Benfica sorriu

«Foi um jogo importante para o Benfica e para mim, marcou a passagem para os oitavos-de-final», recorda ao Maisfutebol Beto, o herói que ia aparecer mais à frente.

Geovanni já tinha feito o 1-1 quando uma bola perdida ficou à disposição do pé direito do médio encarnado: «Costumava chutar de longe, tinha fama de chuta-chuta, em todos os clubes em que tinha passado. Pensei rematar e fui feliz, a bola sofreu um desvio e entrou. Foi uma maravilha, porque há muitos anos que o Benfica não estava nos oitavos-de-final da Champions.»

Aquele remate foi um pontapé de toda a vida, um golo que ia dar um triunfo histórico ao Benfica. Beto correu na direcção de uma câmara de TV e disse algumas palavras: «Fui dedicar o golo ao meu pai, que tinha falecido quando assinei pelo Benfica. Ele foi um dos lutadores que me levou a ser jogador de futebol.»

Nessa noite de Dezembro de 2005, Beto teve «o maior momento no Benfica» perante um United em reconstrução, a atravessar o pior período desde que recuperou o campeonato em 1992/93 e, talvez, impressionado pelo ambiente da Luz, um inferno à antiga, a elogiar Eusébio e seus pares.

«Aquele clima não se esquece, estava maravilhoso, estádio cheio, nem se ouvia o treinador a falar», conclui Beto, sem ter dúvidas que o público vai ter influência na próxima quarta-feira, «por muito que os jogadores estejam habituados».

Depois desse Benfica-Manchester United de 2005, os encarnados voltaram a não conseguir bater o gigante inglês. Na época seguinte, dois confrontos na Champions League: derrota em casa por 1-0 e por 3-1 em Old Trafford.

O saldo é claramente negativo: sete jogos, uma vitória e seis derrotas. Oito golos marcados e 19 sofridos. É por isso que o golo de Beto continua a ser tão especial.