O Maisfutebol desafiou os jogadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

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Leia a apresentação de Bernardo Vasconcelos

«Olá,

Como expliquei no primeiro texto, estou atualmente no Alki de Larnaca (Chipre) mas passei alguns meses no Apoel Beer Sheva de Israel, em 2010. Devido ao panorama atual, é mais que oportuno escrever sobre essa experiência numa das cidades onde a sirene neste momento não para de tocar.

Troquei o campeonato cipriota pelo israelita porque financeiramente era mais vantajoso, com a agravante de o clube onde me encontrava (AEP), estar a atravessar graves problemas financeiros.

A sobrevoar Telavive, temos a sensação que vamos encontrar uma mini Nova Iorque. Movimento, estradas cruzadas, arranha-céus, luzes, pessoas, trânsito. Um mundo enorme, em ponto pequeno.

Mas adaptação desde o primeiro dia não foi difícil. E não foi pelo o facto de estar fora do meu país pois já não jogava em Portugal há 6 anos e já tinha estado a viver em dois países diferentes.

Os costumes eram diferentes, a mentalidade longe da europeia, é um país onde a lei da igreja vale mais que a do estado. Todas as casas têm um quarto anti-bomba.

Se pensava em ir à praia para gozar um pouco de tranquilidade, percebia logo que as avionetas militares não paravam de sobrevoar a praia. Nunca estive numa situação de perigo, mas não vivia com a sensação de tranquilidade.

A nível cultural é fantástico. Cidades como Jerusalém, Galileia, Eillat, tem uma vasta oferta de museus, igrejas lindíssimas. O mar morto foi outra experiência incrível.

Ao contrário de Telavive, que é uma cidade que nunca dorme, Beer Sheva é uma cidade no meio do deserto, onde as pessoas são muito fechadas, tristes, e há muito poucos estrangeiros. Fica a 20 minutos da faixa de Gaza.

No clube, pelo contrário, fui muito bem recebido, as pessoas fizeram tudo para que me sentisse em «casa», a massa associativa era enorme e fervorosa. Tinha como companheiros o português Ricardo Fernandes e o brasileiro William Soares, que já jogou em Portugal. Desportivamente, correu muito bem.

No início, tanto eu como o Ricardo planeávamos ficar em Israel com nossas as famílias, mas tornou-se impossível pois não existiam escolas internacionais por perto. Para além da escola, era a própria vida que não se adaptava aos nossos costumes.

O hebraico, escreverem da direita para a esquerda, os penteados, as roupas. Lembro-me de uma quantidade de feriados religiosos, um dos quais não se podia andar de carro e quem desrespeitasse era apedrejado.

De 6ª feira para sábado (Shabbat), os judeus não podiam tocar em objectos electrónicos. Por exemplo, nos prédios, um dos elevadores para sozinho em todos os pisos para não terem de subir a pé ou tocar no botão. A cozinha é kosher e nos restaurantes que não a seguirem, os judeus recusam-se a entrar.

Enfim, mais que recomendado para visitar, mas muito difícil para viver.

Cheguei no início da época 2010/11 mas a família regressou a casa logo no fim do verão, e eu de alguma forma já sabia que queria mudar em janieor. Era uma solidão!

Fechou-se o ciclo desportivo em Israel e prossegui com o cipriota.

Abraços e até breve com mais um capítulo,

Bernardo Vasconcelos»