Numa entrevista à BPlay, Rafa Silva passou em revista os oito anos no Benfica. Além de ter falado sobre todos os treinadores com quem trabalhou nos encarnados, o avançado de 31 anos falou sobre o que lhe vai na alma na hora da desperdida e, mais do que nunca, deu-se a conhecer o homem por detrás do jogador.

«É difícil quando tens de abandonar a tua durante tanto tempo. Oito anos. As pessoas pensam que é fácil, que isto é só um trabalho, mas passamos tanto tempo aqui e tanto tempo com estas pessoas e neste relvado, que isto torna-se uma coisa da nossa vida. É sempre difícil, mas saio todo contente, porque sei que fiz o meu trabalho e que as pessoas que deixo para trás são pessoas amigas e que eu considero muito na minha vida», disse.

Rafa garantiu que nunca procurou protagonismo e que o que leva de mais valioso no futebol não são as conquistas pessoas. E recusou homenagens pelo que deu ao clube: «Nenhum jogador joga para a homenagem e para se evidenciar. Eu nunca quis câmaras, nunca quis prémios, nunca quis nada disso. Nunca vou ter interesse nisso. O meu interesse sempre foi que as pessoas gostassem de mim como homem, pelo meu caráter, pelo que eu sou. Não pelo Rafa jogador: uns gostam, outros não, faz parte da vida. Homenagens não são para mim: não quero nada disso. (...)  As conexões serão sempre mais importantes para mim do que o que eu faça como jogador. Isso não me interessa muito.»

No último jogo pelo Benfica, diante do Arouca na Luz, Rafa marcou dois golos e recusou bater dois penáltis. «Eu sabia que era o meu último jogo, a maior parte das pessoas sabia que era o último jogo. Mas o que me interessava era ganhar o jogo. O objetivo foi sempre ganhar o jogo e nunca ou que A, B ou C faziam. Fazer golo ou não fazer, não era por aí. Nunca bati penáltis e não tinha por que começar a fazê-lo agora. Não tinha sentido para mim», justifcou agora.

«Privilegiei sempre estar cá, não porque fui obrigado. Fui eu sempre que decidi, tivesse mais ou menos dinheiro. A minha família estava cá e eu sentia-me feliz cá. O mais importante é eu sentir-me bem num sítio. Isso vai ser sempre o mais importante. Ganhar mais nunca foi o que eu quis sempre na minha vida», garantiu ainda.

Rafa Silva deixou ainda várias mensagens aos adeptos do Benfica após uma época marcada por muita contestação. «O futebol e a vida são assim: não vamos ganhar sempre. (...) As pessoas pensam que saímos daqui e que está tudo bem, porque ganhámos o nosso dinheiro e vamos para casa ou de férias. Não é assim, porque isto é a nossa vida, nós gostamos genuinamente do que fazemos e do sítio onde estamos. (...) O Benfica, quando está a ganhar, torna-se no que o Benfica é. [Mas] Vai-se muito aos extremos, do bom e do mau. Acho que tem de se começar a dosear um bocadinho a maneira como se trata as pessoas, porque nós também somos pessoas e estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para termos o melhor desfecho no jogo. (...) Muitas das vezes, porque um jogo não corre bem, começar a duvidar não ajuda e nunca vai ajudar ninguém. Nós temos pressão, faz parte do nosso dia a dia e não é por dizerem que A, B ou C é bom ou mau, que vai ajudar. O objetivo é apoiar o Benfica e que o Benfica conquiste títulos. Nunca nos metemos à frente do clube e eu falo por mim: nunca me vou meter à frente de nenhum clube.»

E reiterou: «Acho que uma coisa que também te de se ter no Benfica e sentir é um bocadinho de respeito e gratidão. Não somos robôs, não somos máquinas. Vi muitos colegas e amigos que deram muito ao Benfica e as pessoas não têm nem noção no sentimento que criam nas pessoas ao fazerem o que fazem.»

Rafa admitiu ser uma pessoa que não transmite muitas emoções, mas garantiu que o sentimento que tem pelo Benfica é grande. E, no fundo, descreveu-se: «Eu sou benfiquista, sim. É verdade! Amo o Benfica. Hoje em dia o que interessa são fotos nas redes sociais, o beijar o símbolo e a forma como se festeja um golo. Quando se devia olhar muito para o que a pessoa é, para o que faz e para o que a pessoa sente pelo clube. Não é por eu não demonstrar sentimentos, porque é como eu sou como pessoa, que eu não sinta o Benfica ou que me esteja a cagar para o Benfica. A maneira como eu estive no Benfica foi a certa. É a minha maneira de ser e de estar. Não vou mudar porque as pessoas acham que tenho de meter coisas nas redes sociais ou festejar mais efusivamente. Não é isso que me faz amar mais o Benfica. Amo o Benfica à minha maneira e vai ser sempre assim», referiu.

O agora ex-jogador do Benfica disse que estava na hora de deixar o clube e que a ideia sempre passou por sair enquanto ainda se sentisse bem. «Isto vai-me custar mais do que eu alguma vez poderia imaginar: sabia que um dia teria de sair e sairia pelo meu pé e não quando já não tivesse condições. Eu saberia quando era a altura de sair. Cheguei a um ponto em que senti que estava na minha hora», disse, falando também sobre a relação com o presidente.

«O Rui [Costa]... é difícil dizer 'o presidente Rui', porque é um amigo. Foi uma das pessoas que me trouxe para cá. Sabe bem o que sentimos, o que passamos, foi um grande jogador e a amizade que acabei por criar com ele foi uma amizade muito importante para mim. É e será sempre um amigo. São muitos anos juntos, de relacionamento e é isso que eu gosto no futebol. Não interessa muito o que somos, interessa sim a maneira como nos tratamos», rematou.