O Sporting vai de novo a eleições. Esta Presidência não durou dois anos, não acaba o mandato. O que correu mal? Desportivamente foi um fracasso. A divisão interna, sem capacidade de liderança, dinamitou o Sporting. A presidência de Godinho Lopes termina com prejuízos de muitos milhões. Agora o clube tem dificuldades para respirar.

Quem vier encontrará inúmeras dificuldades. O desafio será enorme mas aliciante. O que precisa o próximo Presidente? Falar verdade, com transparência, aos sócios e adeptos. Explicar qual a real situação económica/financeira. Apresentar um projecto credível com linha orientadora e realista. Definir os objectivos do futebol. Presidente e equipa devem assumir espírito de unidade e solidariedade. Confiança e lealdade são palavras que têm de estar sempre presentes. Sem medo para tomar decisões porque serão muitas e difíceis. Agir com correcção e firmeza, sempre nos interesses do Sporting, sem nunca colocar em causa a sua subsistência.

O Sporting é um grande clube com uma massa adepta fiel e espalhada pelo país e lá fora. As modalidades amadoras e as actividades realizadas no Multidesportivo estão no bom caminho e demonstram a vitalidade do clube. Mas com respeito por todos é o futebol que movimenta o clube e decide quem vence eleições.

Se o futebol estiver bem a vida de Presidente e direcção será tranquila. Por isso o foco deve ser o projecto e as propostas apresentadas aos sócios e adeptos no que diz respeito ao futebol.

O Sporting é hoje um clube endividado, com enormes dificuldades no dia-a-dia, gasta mais do que recebe.

Como ponto de ordem, o Sporting não pode ter mais despesas do que receitas e deve ser pedida responsabilidade a quem faz exactamente o contrário. O que sucedeu no passado recente, e é público nos relatórios e contas da SAD e do Clube, colocou o Sporting num estado depauperado.

No meu entender o Sporting tem que se redimensionar e reconstruir.

Sócios e adeptos têm de ser informados de que a construção da equipa profissional será feita a partir de jovens, da formação e não só, mesclada se possível com jogadores mais velhos e experientes que ajudem na integração e suporte dos mais novos.

Tentar formar uma equipa competitiva, face ao que existe, terá os seus custos. Os objectivos para este mandato não devem passar pelo título nacional, sim pelos lugares europeus. Não será fácil afirmá-lo mas tem de ser dito.

Com isto não quero dizer que o Sporting não deva lutar pela vitória em cada jogo como se de uma final se tratasse. Sim, tem de lutar. Não assumir a luta pelo título retirará pressão e expectativas sobre treinador e equipa, mas nunca a exigência e ambição que representar um clube como o Sporting acarreta.

As tarefas são tantas que reequilibrar financeiramente o clube e reconstruir a equipa estão na primeira linha, o que será necessário para regressar com força e capacidade para discutir o título a médio prazo. Se as etapas forem antecipadas tanto melhor mas este é o princípio que deve orientar quem for Presidente. O Sporting tem de recuperar filosofia e identidade próprias (que se perderam pelo caminho), adequadas à realidade e com o orçamento possível mas exequível.

As bases têm que ser reconstruídas e isto leva tempo. A aposta na formação não pode ser apenas bandeira eleitoral, antes o caminho que tem de voltar a trilhar. Os sócios e adeptos do Sporting vão compreender quem falar a verdade e apresentar um projecto credível, com uma linha orientadora e acima de tudo realista.

O futebol mexe com as emoções e por vezes uma paixão sem limites. Deve ser vivido com entusiasmo e alegria, sendo certo que os sportinguistas querem um clube ganhador e respeitado mas um novo rumo tem de ter início. O Sporting vai ter que, com estas dificuldades, encontrar o seu caminho e ter junto dele os seus fantásticos adeptos. Eles serão determinantes e chamados a mostrar a sua força (mais uma vez) e apoio nos tempos que aí vêm.